Quero contar um pouco sobre onde (acredito) estão as origens e como toda essa minha aventura pela cozinha começou, antes de dar início às postagens dos resultados das minhas incursões no mundo das panelas, ingredientes, facas e temperos... as receitas!
Faz pouco mais de 10 anos que sai do Brasil, onde vivia entre São Carlos e Itu por conta da faculdade, para uma temporada de 14 (frios) meses na Alemanha. O objetivo daquela ida era fazer o quarto & penúltimo ano de Engenharia Química lá no país da cerveja e do BMW. Acontece que, como muitos já sabem ou devem estar imaginando, eu não sabia falar a língua deles e, por isso, minha tentativa de estudar firmou-se – a cada dia que passava - muito mais como uma tentativa do que como o objetivo fixo que um dia pensei ser capaz de seguir até o fim. Os motivos eram mais fortes, eu tinha um pouco de dinheiro graças à bolsa de estudo, bastante tempo ocioso, vários amigos que falavam português, uma malha ferroviária invejável “aos meus pés” e uma curiosidade nata, desde 1978. O resultado foram 26 países visitados e 4 disciplinas mal executadas na escola de lá.
Para não deixar as raízes de lado, impossível seria, tenho que contar como são as reuniões em casa e como fui acostumado com o fator “comida” na minha vida. Conta a minha mãe que logo depois que nasci fiquei internado por meses na santa casa de Ribeirão Preto, onde só podia me alimentar de um tal leite de soja – fatos raros trinta anos atrás, tanto a intolerância quanto o alimento (ora importado da Holanda). Depois deste tempo, já em casa, as sopas e papas que me foram dadas continham todos os legumes imagináveis. Do cará ao jiló, do inhame às lentinhas. Tenho absoluta convicção de que isso está muito impregnado na minha ‘memória alimentar’ – medo de estar inventando um termo... Além disso, todo mundo tem uma avó que cozinha muito bem, que é a referência gastronômica da família. E em casa não é diferente; quem conhece a minha avó Salima sabe muito bem do que eu estou falando. Mineira de raízes sírio-libanesas ela tem um dom maravilhoso para cozinhar e outro impecável para receber (com muita comida à mesa) a quem quer que seja. Entrar e sair daquela casa sem sentir o cheiro de nada, sem aceitar um pedaço e passar um bom tempo ao redor da mesa ou ainda sem levar (meio obrigado...) uma porção ao se retirar, é inimaginável. Pra não falar da ofensa que o caso contrário poderia gerar.
Bem, percebe-se que, conforme o tempo foi passando fui sendo exposto a uma variedade e a uma quantidade de comida que não poderia dar em outra coisa. Uma ligação muito estreita com os alimentos, um fascínio pelo mundo dos sabores, uma admiração pelos cozinheiros que conseguiam transformar seus ingredientes em pratos assustadores de tão bons e bonitos. Tornei-me o que os falantes de inglês chamam de foodlover (por aqui, um amante de comida). E tem mais um fator genético! Se pararmos a análise na segunda geração antes da minha, sou um neto 62.5% sírio-libanês, 25% italiano e 12.5% espanhol. Raças supostamente reconhecidas por seu lado receptivo e culinarista.
Voltamos agora para a fase alemã da minha história e concluiremos que eu precisei aprender a cozinhar para não ser obrigado a viver um ano e pouco a base daquelas batatas sem graça, da carne de porco às mil-maneiras ou ainda dos pão-com-salsicha (carinhosamente apelidados de pão com sorriso) vendidos em qualquer esquina. Seria impossível passar tanto tempo longe do hábito que (bem) aprendi!
E fui logo me aventurando. Nas primeiras semanas já fazia meu arroz com feijão, depois de vários macarrões e sanduíches bem sucedidos. Mais tarde eram as carnes, pães e peixes até que, literalmente para terminar, fui intimado a fazer a ceia de Natal para os mais de dez brasileiros que viviam lá naquele 1999. Foi inesquecível descongelar o peru com a água quente do chuveiro!
Minha paixão, vocês verão pelas receitas, são os salgados. Não gosto nem de comer nem de fazer doces. Estou me aperfeiçoando nos risotos mas há que diga que meu quibe cru só perde para o da vó... Sincera e modestamente não sei! Sei que sou apaixonado pela experiência de cozinhar, viciado em comer, doido por experimentar e atraído pela delícia de receber.
Quem viver, verá!
Quem não conhece a D. Salima não pode mesmo imaginar o que perde !
ResponderExcluirParabéns pela composição da exposição!
ResponderExcluirEstá literalmente perfeita, absolutamente verdadeira e deliciosamente emocionante.
Estou ansiosa para fazer suas receitas!bj
Carloni, gostei de saber que o blog é sobre comida (coisa de gordo). Nos próximos encontros a gente pode abrir mão do churrasco e começar a fazer encontros gastronômicos, que tal?
ResponderExcluirAbraço
Isso mesmo Fá... como o Biguá anda mesmo sumido, o Gui pode ficar no lugar dele! Outra coisa, gostar de comer nao é só coisa de gordo. Eu, por exemplo, adoro uma boa comida! Como o Gui, também fui criada num ambiente que propiciava muito... rs!
ResponderExcluirEu tb as vezes me aventuro na cozinha, levo um pouco de jeito, mas de verdade prefiro muito mais comer que cozinhar... kkkk!
Gui, o dia que rolar uma experimentaçao por aí me avisa. Eu adoro kibe cru... rs! Comida francesa entao, nem se fale. Tenho uma receita ótima de um gratinado de batata... fácil e maravilhoso!
a vó viu de novo o comentário que lhe diz respeito...ficou emocionada...de novo...
ResponderExcluirmanda beijos, feliz páscoa atrasado, beijos pras princesas e disse que sente muitas saudades!! manda beijos e eu também.
zi